Corujas e morcegos

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quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Lei do Mocinho



O homem mandou matar
um outro homem.
O homem é o mocinho,
o outro é o bandido.
O homem é um monte
de homens armados,
o outro é o monte de
homens que, supõe-se,
teria mandado matar.
Por isso está armado,
ainda que não esteja
armado: sua arma é
sua alma desalmada.

Almas desalmadas,
reza a Constituição,
não têm direitos.
Nem de ser presas
e julgadas, nem de
ter seus restos físicos
sepultados pelos seus.
 Almas desalmadas
não carecem de tumba:
seus corpos devem ser
drasticamente lacrados
mesmo antes de morrer,
como reza a Constituição
dos bons, do mocinho.
 .

terça-feira, 19 de abril de 2011

Desaforismos



“Quem tem o que dizer . .
diz. ..
Quem não tem, fala de. .
si.” . .
Tuca Zamagna *. .

1/

O lado positivo de hoje estar
em extinção o cinema de rua
é que preserva-se o ambiente
dos títulos psico-poluentes
que os tradutores inventam.

\2

Somos recicláveis
de várias formas
enquanto vivos.
Mortos, nem tanto.
Se enterrados,
damos bom adubo;
se cremados, poeira
para o mundo espanar
e esquecer – se alguma
ivete não der de levantá-la.

3/

Somos biodesagradáveis,
porém não biodegradáveis.
O que degrada-se da alma
não é bio: não é todo, não é nós.
O que degrada-se da carne,
lixo lançado à cova,
já não somos nós.

\4

Essa tal de auto-estima
nasceu das fezes do tempo
em que não carecia ser-se
tão parvo quanto hoje se é
para viver uma vida fútil.

5/

No futuro, todo
minuto será famoso.
para quinze durantes.

\ô/

* Na epígrafe, o Tuca incorpora, com a naturalidade de um pai-de-santo competente, o espírito (encosto?) que busco materializar nestes desaforismos. Ao submeter a pequena pérola à opinião de uma amiga, ele ouviu o comentário a meu ver consagrador: “Mas Clarice Lispector, Fernando Pessoa e outros grandes falam de si quase o tempo todo!”  E o Tuca, paciente e didático, propôs: “Me aponte um texto de um deles que comece, por exemplo, assim: ‘Eu hoje tive um dia incrível, sabe, gente? Eu acordei, eu escovei os dentes, eu lavei o rosto, eu fiz cocô...’”

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Rabo de lagartixa


Será um
poema tão denso e coeso
que se dele eu desmembrar
as três estrofes iniciais
cada uma terá novo sentido
– completo, redondo, primal –
 porém, a conservar, latente,
a ligação visceral com o todo.

.E a estrofe derradeira,
solibunda, ecoará como
aforismo órfão, surreal,
ligada ao corpo do poema
só por tara atávica: rabo
de lagartixa a rebolar,
possesso pelo sem sentido
(a)parente? (tran
s)parente?
de uma sobrevida sem pé

nem cabeça nem sexo.
 
\ö/
.
1- Este texto, na verdade, nasceu (ou ressuscitou) de comentário a um intrigante poema de Diogo Liberano que li há séculos (ontem à tarde) no blog 'Plantando Livros e Escrevendo Árvores' (ou algo nessa linha), aqui

2 - Não estou certo de que a imagem acima seja mesmo a de um rabo de lagartixa. Pode ser também o rabo de um girino, de um tamanduá, pangolim, água-viva, ramster, uirapuru, mulher-melancia... Como vou saber, se nunca me atrevi a apalpar glúteos de ortópteros e platelmintos?
.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Descascando


 .
Dentre as expressões abaixo, qual é a mais vazia?

MIOLO DO NADA. . .   .  CORAÇÃO OCO. . .   . .VAGINA DE ANJO


Para conferir a .RESPOSTA , você ou o seu monitor deve plantar bananeira.
.
.

domingo, 3 de abril de 2011

Não me diga o que vê


. . . . . . . . . . . . . . Eis meu rosto, meus traços
. . . . . . . . . . . . . . vedados ao meu próprio olhar;
. . . . . . . . . . . . . . meu estar em mim, tão-somente
. . . . . . . . . . . . . . diante do espelho do olhar alheio,
. . . . . . . . . . . . . . meu estar perdido na escuridão
. . . . . . . . . . . . . . que não semeei; minha sorte
. . . . . . . . . . . . . . de condenado a esta vida tosca,
. . . . . . . . . . . . . . planejada e erigida por um deus
. . . . . . . . . . . . . . de pedra, uivos e esquecimento,
. . . . . . . . . . . . . . ébrio sátiro que habita e consome
. . . . . . . . . . . . . . a consciência que me imputou
. . . . . . . . . . . . . . como asas que não voam, como
. . . . . . . . . . . . . . caminhos que não terão rastros.
 .

domingo, 27 de março de 2011

Luto propiciatório


Um minuto de silêncio, por caridade cristã!
.
(Luto propiciatório à profusão de luzes geradas pelo bando de filhos da puta que há-de auto-explodir-se nos orgásticos minutos subseqüentes.)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Toda luz


 .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .  .   .   .   Fecha os olhos e vê
 .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .  .   .   .   toda luz
 .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .  .   .   .   da escuridão.
 

quinta-feira, 24 de março de 2011