Corujas e morcegos

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Alma Van Gogh



Meus olhos, mais que as unhas,
precisam ser aparados regularmente,
porque o defunto que um dia serei
costuma tomar como suas
paisagens minhas que deixo,
levado pela emoção,
transbordar da vida.

Me faço vermes, então,
e devoro esse corpo inerte
que – junto com o meu próprio ­–
ladeiam-me a alma como orelhas.

Que ele exista desde já, se lhe apraz,
mas só por breves momentos:
enquanto vida houver,
minha alma será Van Gogh.