I
As horas, minha sombra
sempre diz com precisão.
Mas ouvidos só lhe dou
quando a piso por inteiro:
ao meio-dia em ponto.
sempre diz com precisão.
Mas ouvidos só lhe dou
quando a piso por inteiro:
ao meio-dia em ponto.
II
Sombra de mim, és sobra
do outro que sempre sou
a cada passo que dou
no que de mim sossobra.
do outro que sempre sou
a cada passo que dou
no que de mim sossobra.
III
Fotografam-me de pé
e revelam-me no chão.
Enquadram-me sentado,
na foto eis-me no chão.
Deitado, sim, é que surjo
lógico, na horizontal,
embora justo embaixo
de mim que lá não estou.
Mas no espelho, a sós
comigo, sou onde estou,
ainda que seja ainda
minha maldita sombra
que no aço se estampa.
Somente em radiografias
saio sempre bem: revela-se
o exterior do meu próprio
eu, livre dessa sombria
víscera que me persegue.
.