Corujas e morcegos

domingo, 1 de maio de 2011

Ela, às vezes eu



I

As horas, minha sombra
sempre diz com precisão.
Mas ouvidos só lhe dou
quando a piso por inteiro:
ao meio-dia em ponto.


II

Sombra de mim, és sobra
do outro que sempre sou
a cada passo que dou
no que de mim sossobra.


III

Fotografam-me de pé
e revelam-me no chão.
Enquadram-me sentado,
na foto eis-me no chão.
Deitado, sim, é que surjo
lógico, na horizontal,
embora justo embaixo

de mim que lá não estou.

Mas no espelho, a sós
comigo, sou onde estou,
ainda que seja ainda
minha maldita sombra
que no aço se estampa.

Somente em radiografias
saio sempre bem: revela-se
o exterior do meu próprio
eu, livre dessa sombria

víscera que me persegue.
.

5 comentários:

  1. Adoro este jogo de alteridade apresentada pelo eu-liro quando narra seus eus.

    ResponderExcluir
  2. Wilden, meu querido!

    Nossa, coisa mais linda isso...
    E ó: Somente em radiografias, saio bem!

    Um beijo pra ti!!!

    PS: Você sabe se o Tuca, o Teopha estão vivos?
    Sumiram hehehe!

    ResponderExcluir
  3. Esqueleto assombrado. Gosto dos avessos!
    Viajo nas tuas escrivinhações
    Bjão, Wil e semana bem bacana

    ResponderExcluir
  4. Beleza, grande Wil!

    Abração

    ResponderExcluir
  5. Eu me livrei da minha faz tempo. É fácil. Você pega um martelo e espera dar meio-dia. Então, quando sua sombra botar o focinho de fora, porrada nela! Beijos

    ResponderExcluir