Corujas e morcegos

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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Ave aves!



Seu Juca Sem Fio . . .

Não se passou um só dia nesta minha vida
andarilha
tão parca de grandes realizações,
mas quase infinita
(se não o for por inteiro, sabe-se lá...),
sem o cotidiano encantar-me... e muito!...
com os presentes ganhos:
dores fincadas bem fundo na alma
tanto quanto alumbramentos
por aves, com aves, sempre as aves,
que um avestruz como eu
só com elas e por elas se deixa tocar.

Um dia é um condor azul que me beija,
com toda a paixão latente pelos cumes do mundo,
e o coração me leva para plantar lá nas alturas:
e lhe sorrio e lhe sou grato;
outro dia pode ser um beija-flor
a vir pairar no ar que respiro
e sugar-me até o fim o néctar cultivado
às claras da flor da pele:
e lhe sorrio e lhe sou grato.

Ave aves! Sou-lhes todo gratidão...
e aflitiva e alucinada espera,
dê-se a isso o nome que se der:
carência, ansiedade, tédio, náusea, piti...
saudade, não! que a saudade, nas aves,
não é sequer uma pena... uma pluma... arrancada,
mas parte do ser ave, a mais pura e permanente,
a mesma que muitos humanos
tolos que não querem voar
nem sabem que é a própria razão de existir.
.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ninguém


 
Seu Juca Sem Fio

O coração apagava cada verdade que vinha do mundo
porque as mãos colhiam sementes chocas para plantar estrelas.

Elefantes, carregava-os nas costas até virarem borboletas,
para oferecer aos pés lonjuras caudalosas de incertezas.

Do sexo, pendiam fieiras de risos, clarins e atabaques,
em desacato ao silêncio de morte que ao gozo sucedia.

Os olhos liam de trás para frente todas as palavras,
e eis que todos os sentidos chegavam sempre ao princípio.

O fim, a boca nunca o pronunciou nem haveria de provar:
esse lá merecia crédito com parte alguma de um ninguém?
.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Asas de fruto do mar



Seu Juca Sem Fio *

Quem é de andar... anda,
anda com ou sem as pernas,
que o único entrave é o talho nas
rneas d’alma, mal querência do fio
do nefando horizonte comum.

Por isso, poucos andam, de fato,
embora muitos pensem que sim,
que andam, que caminham, que vão
rumo aos rumos não-circulares
vedados a eles, pobre diabos que
rodam apenas a passo mecânico,
ponteiros de relógio que são.

Ah, eles nem sabem onde pisam,
mas preferem o cimento ao barro
e o asfalto ao paralelepípedo.
Não sabem que qualquer chão é caminho
de seda, tramada pelos raios do sol;
de veludo, urdido pelo luar, pelos estelares;
ou de algodão, das nuvens quando pousam.

Quem anda mesmo encontra o chão
e, no chão, até o que é dos ares e das águas.
Como essa moça que outro dia eu vi menina,
a saltitar pelas areias do céu de Bangu
e a me gritar, bem lá da esquina
de Vega com Aldebarã: – Ei, seu moço,
aceita umas asas de fruto do mar?

Eu sorri, e lá veio ela atrás de mim,
a me chover, por mais de légua, légua e meia,
uma garoa luminosa infinita de conchinhas
que catava com os olhos alumbrados
e pelo coração cuspia neste mundo.

\ô/

  • * Seu Juca Sem Fio é um andarilho da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Este poema foi escrito especialmente para os 18 anos de Raissa Medeiros e publicado (não na íntegra, como agora aqui) no blog desinformação seletiva, em postagem que reuniu autores como António Cabrita, Ana Jácomo, Assis Freitas, Marcantonio, Jorge Pimenta, Betina Moraes, Cris de Souza, Rita Santana, Bípede Falante, Paulinho Saturnino, Ira Buscacio, Suzana Guimarães, Jenny Paulla, Pólen Radioativo, Patricia Gonçalves, Marcel Zanner ... e até Wilden Barreiro!  Foi um prazer e uma honra participar desta belíssima homenagem, luxuosamente editada e ilustrada por Tuca Zamagna e seus três asseclas. Confiram, aqui.
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